Procissão do Senhor da Cana Verde

É Quinta-feira Santa. São 21h e 30m. A escuridão impõe-se na vila do Crato, desligada que acaba de ser a iluminação pública. Na frente da Igreja Matriz, a cabeça do cortejo processional, até então imobilizado, inicia um movimento simultâneo. Nesta noite que há pouco passou a ser iluminada pelo fogo vivo no topo dos archotes, apenas se ouvem os passos que pisam as pedras da calçada.

O desfile conta com centenas de participantes: há que transportar os andores, os pendões e os estandartes, as luminárias, há que manifestar a fé que se tem e há que rememorar os Passos da Paixão. Para além das vestes eclesiásticas, destacam-se na escuridão as estrelas da Ordem Soberana de São João de Jerusalém de Rodes e de Malta sobre as vestes negras dos mem- bros desta ordem religiosa. A procissão prossegue em sinuoso trajecto pelas ruas da vila e culminará na Igreja Matriz.

Uma imagem de Cristo de expressão sofrida, denominado Senhor da Cana Verde, é levado no cortejo e assiste ao cerimonial que lhe é dedicado, já no interior do templo. No final, aquela figura de madeira é cuidadosamente apeada, deitada num esquife e preparada para o dia seguinte, Sexta-feira Santa: será a nocturna Procissão do Enterro do Senhor.